Agora em junho acontece em Lisboa a Feira do Livro, que por sorte é do lado do escritório da empresa em que trabalho. Então aproveitei um final de tarde e fui lá, e comprei 5 livros. Um deles é o livro “Prisioneiros da Geografia”, do autor Tim Marshall. A ideia principal do livro, como o título sugere, é como a geografia afeta a geopolítica global. Por exemplo, a cadeia de montanhas do Himalaia, na divisa entre China e Índia é uma barreira militar natural. Mover tropas por ali é um desafio logístico, e daria vantagem à parte sendo atacada.
Este livro foi publicado em 2015, ou seja, 8 anos antes da publicação desse post. Um ponto que eu acho importante frisar é que o livro, pela própria temática, faz uma ponte entre a geografia existente em 10 locais do mundo e faz prognósticos. E todos sabemos que fazer previsões é uma tarefa ingrata, já que não importa o quanto possamos dominar o assunto em questões, é impossível calcular as variantes e a existências de cisnes negros. Os locais analisados pelo autor são, em ordem de aparição dos capítulos: Rússia, China, Estados Unidos, Índia e Paquistão, Europa, África, Oriente Médio, Japão e Coreias, América Latina e Ártico.
Sobre o livro em si, achei um bom livro, trazendo alguns fatos que eu não conhecia, como por exemplo, a divisão de países na África ter sido feita de forma arbitrária, e que seus rios não são muito úteis para navegação de carga, pois possuem muitas cachoeiras em seus percursos (já nos EUA ocorre o inverso, com uma quantidade absurda de águas navegáveis, o que facilita o comércio). Também a questão do Paquistão e Índia foi um assunto bem interesse. Eu já conhecia a rivalidade dos países e que ambos possuem armas nucleares, mas o autor trouxe pontos que eu desconhecia.
Porém, nem tudo é perfeito no livro. O primeiro ponto, que eu já abordei, é a questão dos prognósticos. Por exemplo (alerta de “spoiler”), no primeiro capítulo, sobre a Rússia, o autor menciona que a dependência energética da União Europeia ao gás russo impediriam ajudas militares para os países invadidos, como no caso da Ucrânia. Como pudemos ver, isso não se concretizou. Além da Alemanha ter adaptado seus portos para receber o gás natural, a UE passou a comprar gás e petróleo de outros países, como Estados Unidos. Assim, países da OTAN (NATO) passaram a disponibilizar armamentos à Ucrânia, sem os quais o país não poderia se opor ao gigante russo.
Outro ponto que eu não gostei do livro é que ele é pequeno demais para poder explicar detalhadamente todos os capítulos. Por exemplo, achei o capítulo da América Latina meio superficial (mas isso talvez seja porque eu seja latino, e esteja mais familiarizado com a região). Falou pouco do Brasil, e ainda chamou o cerrado de savana (aqui fica o ponto de que talvez a culpa seja da tradução, já que eu li em português de Portugal). Embora seja uma savana, todos conhecemos a região como cerrado. Além disso, o autor cita o Brasil como sendo um país pacífico. Isso está correto, a diplomacia brasileira é conhecida por ser não-bélica. Mas mesmo assim, Brasil lutou na Guerra do Paraguai (e na Segunda Guerra também, na Itália). Como essa guerra alterou a geografia e demografia do Paraguai, acho que valeria a citação (para contexto, nesse mesmo capítulo o autor menciona outros conflitos no continente).
Por fim, a última coisa que eu não gostei é que o autor não traz referências. Não que eu esteja duvidando da sua análise, mas seria interessante haver referências para os assuntos, para que, quem quisesse, pudesse já ter alguma direção para aprofundar os estudos.
Embora os parágrafos sobre minhas críticas tenham ficados maiores do que o parágrafo elogiando o livro, não encarem isso como um problema do livro. Eu achei ele bom, conforme escrevi há pouco. Poderia ser melhor se ele fosse umas 100 páginas maiores, o que permitiria um aprofundamento maior em alguns tópicos, mas isso não invalida sua qualidade.
Nota: 7,5/10